A estranha saga de um povo sem sorte
por Luiz Roberto Saviani Rey
A dedução subsidiária e subjacente à demissão do ex-juiz Sérgio Moro do Ministério da Justiça – e que, em verdade é o tópico talvez mais relevante e não tão paralelo ou submisso assim – é a de que, tardiamente, reconhecem parte daqueles que elegeram Bolsonaro para o cargo mais elevado da nação, havia apenas fumaça e gelo seco por trás de toda a campanha presidencial que chegou a incendiar o Brasil e a confrontar a sociedade com o bloco de apoiadores que nele enxergou o Messias que não seria apenas o do seu nome!
Vemos hoje, estarrecidos em razão do tempo perdido e do estancamento da política e da economia do país, e também pela forma personalista, arrogante e invejosa com que o presidente trata a coisa pública e as relações ministeriais, políticas e sociais, que não houve e não há planos e projetos para recuperar nada, a não ser os aspectos pessoais do eleito.
Entendemos, saturados e entristecidos, que tudo o que vivemos em 2017 não passou de pirotecnia barata, destinada a disfarçar e aparentar tratar-se de uma escalada vital e vigorosa contra a corrupção e pela renovação e emancipação nacional. Embora pudéssemos antecipar que nada mesmo existira em um candidato que, a todo momento, defendia a violência, a tortura e o disparo casual de supostas armas de fogo contra seus detratores.
Percebe-se hoje – pelo menos as pessoas equilibradas, aqueles que têm ponderação e visão política e histórica, e que tal já haviam enxergado na base – a loucura que foi esse processo de condução irresponsável de um falso líder ao poder por parte de pessoas vingativas e desprovidas de bom senso e de descortino.
Fica claro, após os arroubos de um maluco isolado, um Dom Quixote às avessas, intentando contra moinhos reais de construção de uma Polícia Federal autônoma – por se tratar de um organismo de Estado, não de governo -, de uma Justiça sólida e inquestionável, de instituições e governos locais independentes e responsáveis, que Bolsonaro lá está para defender meramente sua reeleição em 2022, e para ajambrar os interesses seus e de seus familiares, investigados por situações pouco claras, para não dizer nebulosas.
Corramos, que ainda há tempo de apagar a saga de um povo sem sorte, atirado aos braços de abusadores e aproveitadores. A tempo de recuperar o Brasil dessas mãos perniciosas, e recolocá-lo em um caminho lógico e pontual de crescimento, desenvolvimento econômico e social, e de nos reencontrarmos com o saudoso Brasil de grandes homens, de líderes voltados efetivamente a reconstruí-lo e torna-lo belo, como nas canções mais efusivas sobre nossa Pátria, como em “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, ou “País Tropical”, de Jorge Ben Jor.
Luiz Roberto Saviani Rey é jornalista, escritor e professor de jornalismo com Especialização e Mestrado pela Faculdade Cásper Líbero.