Fase de transição: que tipo de funcionário é você?
Por Marcos Morita
Anos de PIB magro esvaziam o bolso de qualquer um, seja pessoa física ou jurídica. Com menores receitas, as empresas são obrigadas a implantar programas de redução de custos, o que se traduz em restrições de viagens, hotéis, almoços de negócios, eventos, treinamentos, cursos de línguas e reembolso educação, assim como extensões no prazo de troca de veículos, computadores e celulares, só para citar os procedimentos mais comuns.
Outra medida adotada com frequência é o famoso facão, apelido carinhoso dado pela rádio peão às demissões em massa. Anos de casa, altos salários, baixa performance e reestruturação são as justificativas encontradas na hora do desligamento, sempre traumático para quem entrega a carteira de trabalho, devolve o crachá, esvazia a gaveta e diz adeus aos colegas, os quais apesar da comoção e dos abraços de despedida, dão graças a Deus por terem escapado.
Com cadeiras sobrando é hora de organizar as caixinhas ou o organograma da empresa, fundindo áreas, otimizando atividades, extinguindo cargos e agregando funções, cujo objetivo é tornar a empresa mais produtiva e eficiente, fazendo mais com menos. Esta etapa, também conhecida como fase de transição traz trabalho adicional, incerteza, desconforto e as chamadas áreas cinzas: atividades sem responsáveis ou processos definidos.
E como já era de esperar, cada colaborador reage de maneira diferente, seja devido a experiências passadas, tempo de casa, posição hierárquica ou momento de carreira. Para ilustrar seu comportamento recorro a conhecidas analogias do mundo animal.
O avestruz: mesmo tendo sobrevivido ao facão, alguns colaboradores adotam uma postura reativa e cautelosa, preferindo esconder-se a se envolver nos comitês e projetos que surgem em decorrência da nova configuração. A figura do avestruz com a cabeça enterrada é sua mais perfeita tradução.
O porco espinho: outros tornam-se agressivos, questionando e duvidando das mudanças que o afetarão, sem contudo apresentar os motivos ou soluções. Como o pequeno animal que o representa, prefere reagir a atacar, virando-se de costas para que seus espinhos entrem no corpo do agressor toda vez que se sente ameaçado.
O galinha: pense num omelete com bacon: para confeccioná-lo a galinha participa e o porco literalmente morre. Assim são os profissionais galinhas: cacarejam, fazem barulho, sobem no poleiro, botam ovos e ciscam ao redor das novidades, sem, contudo se aprofundar ou assumir responsabilidades.
O polvo: compra e adota as mudanças, liderando de maneira pró-ativa as iniciativas mesmo quando não há respostas a todas as perguntas. Assume riscos e atua nas áreas cinzas, coordenando avestruzes, galinhas e porcos espinhos em projetos e comitês. Como faz muita coisa ao mesmo tempo parece ter vários braços, razão da analogia com o molusco.
Assim como sugere o próprio nome, esta etapa de transição um dia terminará, da mesma maneira que o grande dilúvio. Analisando o comportamento, o engajamento e as atitudes de seus colaboradores, será tarefa fácil aos dirigentes listarem os escolhidos para entrarem na arca quando a próxima estação de chuvas vier, até porque polvo já vive dentro d`água.
Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.