Tabagismo: um desafio a ser enfrentado
Por Dr. Fernando Yukio Tomita
No Dia Mundial Sem Tabaco, designado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o dia 31 de maio, temos a missão de alertar para os riscos à saúde e defender políticas para a redução do consumo, que é a principal causa de morte evitável em todo o mundo.
O tabaco é o único produto legalizado que mata até metade de seus usuários, sendo responsável pela morte de um em cada 10 adultos, que corresponde a 8 milhões de pessoas por ano no mundo (sendo 7 milhões de fumantes ativos e 1 milhão de não fumantes expostos ao fumo passivo).
Há 1,3 bilhão de usuários de tabaco em todo o mundo. A expectativa de vida dos fumantes é pelo menos 10 anos mais curta do que a dos não fumantes.
No Brasil, iniciativas de prevenção, medidas legais e maior acesso a tratamento têm contribuído para reduzir o tabagismo. No entanto, dados de 2023 do inquérito de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde (MS), apontam que entre as pessoas com mais de 18 anos, 9,3% da população brasileira ainda é fumante (sendo 11,7% dos homens e 7,2% das mulheres), ou seja, quase 14 milhões de pessoas, e a morbimortalidade relacionada ao tabaco permanece como um dos principais desafios da saúde pública.
Outra preocupação diz respeito aos cigarros eletrônicos, também conhecidos como Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEF), “vapes” ou “pods” que, mesmo proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), têm uso crescente, particularmente entre jovens, gerando uma nova geração de tabagistas.
No Dia Mundial sem Tabaco de 2024, a OMS elegeu como foco “Proteger as crianças da interferência da indústria do tabaco”, oferecendo uma plataforma para que as pessoas apelem aos governos que adotem políticas que protejam os jovens do marketing implacável dos produtos perigosos, principalmente nas mídias sociais e plataformas de streaming.
A OMS listou mais de 100 motivos para parar de fumar, dentre os motivos podemos citar alguns deles: (confira na íntegra no site oficial do Ministério da Saúde – Conheça as mais de 100 razões para deixar de fumar)
O tabaco afeta sua aparência imediatamente – dentes ficam amarelados, mau hálito, pele enrugada, cheiro impregna pele, roupas e ambiente, risco maior de desenvolver psoríase e quadros graves de Covid-19;
Risco para fumantes passivos (amigos e familiares) – têm risco maior de desenvolver câncer de pulmão, diabetes tipo 2, progressão da infecção tuberculosa para a doença ativa e 1 milhão de pessoas morrem ao ano devido a exposição ao fumo passivo; isso também vale para os cigarros eletrônicos;
Consequências sociais negativas – isolamento e baixa produtividade no trabalho devido às pausas para fumar;
Reduz fertilidade – maior probabilidade de sofrer de infertilidade e disfunção erétil;
Cigarros eletrônicos não são seguros – aumentam os riscos de doenças cardíacas e pulmonares; e a nicotina presente é viciante e compromete o desenvolvimento cerebral em crianças e adolescentes;
Destrói o coração – risco duas vezes maior de derrame e quatro vezes maior de doenças cardíacas, a fumaça danifica artérias do coração, culminando em ataques cardíacos e derrames;
Causa mais de 20 tipos de câncer – é responsável por 25% de todas as mortes por câncer no mundo; causa câncer de boca, lábios, garganta, esôfago, cavidades nasais, paranasais, colorretal, renal, hepático, pâncreas, estômago, ovário, trato urinário inferior, colo de útero, pulmão, leucemia mieloide aguda, dentre outros;
Perda de visão e audição – doenças oculares, degeneração macular que resulta na perda irreversível da visão, catarata, glaucoma e perda auditiva;
Demência – o tabaco é fator de risco para a demência, incluindo Alzheimer;
Doença periodontal – causa inflamação crônica que desgasta as gengivas e destrói o osso maxilar, levando à perda dos dentes;
Riscos para a gestação – uso de tabaco ou exposição à sua fumaça por parte da gestante pode levar à morte fetal e aborto espontâneo; fumantes correm maior risco de complicações fatais para mãe (gestação ectópica), e há riscos significativos para o desenvolvimento do feto e parto prematuro;
Meio ambiente – bitucas de cigarro estão entre os resíduos mais descartados em todo o mundo e os mais comuns coletados em praias e margens fluviais, o que representa um grande risco para a contaminação dos lençóis freáticos, uma vez que possuem substâncias perigosíssimas como arsênio, chumbo, nicotina e formaldeído. Cigarros eletrônicos podem conter baterias que exigem descarte especial, além de terem substâncias químicas e outros materiais não biodegradáveis; para produzir 300 cigarros é necessária madeira de uma árvore, apenas para curar a folha de tabaco.
Todas as considerações feitas, é importante não apenas que nos apoiemos nas políticas públicas para sanar o problema. Mais do que isso, deixar o tabagismo, ou sequer começar a fazer uso de cigarros, para que salvemos o sistema de saúde e as nossas próprias vidas, depende de cada um de nós.
Fernando Yukio Tomita (CRM-SP 63202), (RQE 18578 e 185781) é médico psiquiatra e coordenador do Serviço de Interconsulta Psiquiátrica do Vera Cruz Hospital, com residência médica pela Unicamp, atuação em psiquiatria forense e especialista em dependência química pela Unifesp.
Imagem destaque: Imagem de wirestock no Freepik