Comédia fantasmagórica sobe as escadas do MIS Campinas
Em cartaz entre quinta (25/6) e sábado (27/6), Campignólia conduz o espectador às salas do Palácio dos Azulejos atrás de figuras históricas e fragmentos de lendas de Campinas. A entrada é franca.
Sentem-se, por favor. Afinal, a espera continua longa e vagarosa. Além disso, o Barão Despenteado, figura notória, invejosa e polêmica do fim do período da escravidão, tem uma história em tom de causo de tio avô para desvendar ao respeitável público. O palco itinerante dessa viagem fantástica será o MIS Campinas, abrigado no Palácio dos Azulejos. Com limite de 60 espectadores por apresentação, a comédia fantasmagórica Campignólia será encenada quinta-feira (25/6), às 20h, bem como sexta-feira (26/6) e sábado (27/6), às 20h e à 0h (meia-noite). A entrada é franca.
A cena será composta pelos artistas da Família Burg (Guga Burg Cacilhas, Ivens Burg Cacilhas e Joana Piza), da Dupla Companhia (Aline Olmos e Fernanda Jannuzzelli) e pelo músico Lucas Uriarte. Quem está à frente da direção é o aclamado Palhaço Tubinho, descendente de família tradicional de circo-teatro e referência no Brasil em tal estética teatral. Por sinal, o multiartista circense também assina a dramaturgia inédita de Campignólia. A montagem foi contemplada pela edição 2014 do FICC (Fundo de Investimentos Culturais de Campinas) na categoria Artes Cênicas.
A ocupação do prédio do MIS Campinas foi proposital. O despertar se deu quando Guga Cacilhas, um dos artistas envolvidos, assistiu a um espetáculo naquele local. Dito e feito: resolveu produzir algo novo, unindo na mesma partitura artística o cenário daquele espaço centenário, o percurso itinerante pelo prédio e a estética do circo-teatro. “Para nós, a ocupação do MIS Campinas contribui para que esse museu se torne cada vez mais conhecido e valorizado pelo público. A partir desse estímulo, conseguimos fazer algo original, trazendo a linguagem da encenação circense para um lugar que ela ainda não tinha visitado”, destaca Guga.
Apesar de ter escrito as peripécias do Barão Despenteado bastante influenciado por visitas ao Palácio dos Azulejos, bem como por uma pesquisa desenvolvida pelos atores a partir de figuras históricas e lendas campineiras, Tubinho soltou as rédeas da imaginação para recriar personagens e situações. Cômicas, na maioria das vezes. “Trata-se de um espetáculo que tem cenas de suspense, de terror e de drama, mas que estão exclusivamente a favor da graça, da comédia. Da mesma forma, há uma inspiração histórica da cidade, mas bem livre e com certa licença poética, até porque não procuramos contar as origens de Campinas ou ser didáticos”, descreve Pereira França Neto, o Palhaço Tubinho.
A fim de apaziguar a curiosidade da plateia, que ficará extasiada em adivinhar as verdades históricas e as recriações fantásticas das trupes, a atriz Joana Piza pontua referências importantes no texto. Detalhes sutis, faz questão de reforçar. “Por exemplo, há menção à filha albina do Barão Geraldo de Rezende, que não podia tomar sol por conta da pele; da tão conhecida Lenda do Boi Falô e, claro, da trajetória do Barão de Itatiba, que construiu e morou no Palácio dos Azulejos. Ali, ele promovia um evento chamado Copo de Água, momento em que recebia a população com uma farta mesa de doces”, destaca a atriz.
Comédia itinerante
Itinerante pelo Palácio dos Azulejos, percorrendo as principais salas, escadarias e o jardim, o público perseguirá os passos do ainda Comendador Despenteado, que traz no peito um sonho reprimido: receber o título de Barão. Para aumentar a perturbação, figuras ambiciosas e desajeitadas cruzarão o caminho deste fanfarrão, entre as quais os criados Bento e Benta, Bina, a filha aflita por conta de um casamento arranjado pelos pais; e Magnólia, a esposa controladora e megera. “Vem daí o Campignólia, um louco desejo do Despenteado em mudar o nome de Campinas para agradar e homenagear a mulher”, completa Tubinho.
Contudo, como pontua o ator Ivens Burg Cacilhas, o intérprete de Despenteado, o figurão necessita cumprir alguns requisitos para receber o título de barão das mãos de Dom Pedro. Para tanto, promove de forma interesseira a benemerência, tanto por meio do Copo de Água quanto pela construção de escolas, e ainda busca casar a filha com um bom partido. “Tudo o que o Despenteado faz tem como referência a vida de um antigo barão, que ele passa a tomar como exemplo. Ele não vive mais a vida dele, mas busca ser uma cópia do outro, o que acaba o colocando em algumas situações embaraçosas”, completa Ivens.
A estética
Apesar de não ser uma comédia da tradição do picadeiro ou escrita para o circo, Campignólia carrega alguns traços da vivência do Palhaço Tubinho sob a lona circense. Para começar, a plateia identificará com facilidade alguns tipos clássicos do circo-teatro, como a megera, a ingênua e, claro, o cômico. “Não existe a figura do palhaço de cara pintada, mas a graça está toda voltada ao Despenteado”, explica Tubinho. Da mesma forma, tal qual o que encontrou no berço artístico, a comédia escrita pelo circense também está baseada em quiproquós, desajustes familiares e até mesmo em algumas gags clássicas da palhaçaria de picadeiro.
Outro detalhe precioso: o tom sobrenatural de Campignólia está intimamente ligado à herança do circo-teatro. Não por acaso, várias comédias de lona retratam mistérios ocultos, fantasmas e seres fantásticos. Tubinho cita algumas: Tubinho e As Almas do Outro Mundo, Tubinho Contra o Lobisomem, Tubinho e a Noiva do Defunto, e Ghost ou Não Goste: Tubinho do Outro Lado da Vida. “O sobrenatural funciona bastante, a plateia se identifica. O palhaço já é desajeitado e atrapalhado por natureza, imagine só quando ele se depara e enfrenta esses seres, a graça e as trapalhadas tendem ainda a ser maiores e mais espontâneas”, avalia Tubinho.
O diretor
Por ter nascido dentro de uma família circense tradicional, Pereira França Neto, o popular Palhaço Tubinho, carrega no sangue a polivalência dos artistas de picadeiro. Além de palhaço, acumula as habilidades de ator, diretor, dramaturgo, produtor cultural e empresário circense. Desde 2001, está à frente do Circo de Teatro Tubinho – uma trupe circense itinerante –, que traz no repertório mais de 90 espetáculos teatrais, entre comédias, infantis e dramas, como Tubinho, O Rei do Gatilho; Tubinho e a Sua Família na Capital; Tubinho e a Mulher Nota 1.000; Pinocchio; Meu Filho, Minha Vida e Tubinho e as Almas de Outro Mundo.
Serviço
O quê: Campignólia
Quando: Quinta-feira (25/6), às 20h; sexta-feira (26/6) e sábado (27/6), às 20h e à 0h (meia-noite)
Onde: Museu da Imagem e do Som de Campinas – MIS (Palácio dos Azulejos: Rua Regente Feijó, 859, Centro, em Campinas)
Quanto: Entrada franca (As 60 senhas para o espetáculo serão distribuídas uma hora antes de cada sessão)
Classificação indicativa: 12 anos
Informações: www.miscampinas.com.br e (19) 3733-8800