O médico e o demagogo
por Samuel Mendonça
O coronavírus tem envolvido toda a sociedade brasileira e isto é bom, no entanto, entre o discurso de um empresário ou de um político demagogo, de um lado, ou de um médico ou de um instituto de medicina, de outro, parece óbvio que o segundo caso deve ser considerado em se tratando de saúde ou de doença.
Muito se fala sobre a necessidade de quadro técnico para a atuação na política. Jair Messias Bolsonaro prometeu quadros técnicos para as diferentes pastas, o que não aconteceu. Os casos mais emblemáticos de despreparados para os respectivos cargos, além do Presidente da República, que não teve qualquer experiência no executivo e desconhece a necessidade de políticas públicas, mesmo estando na política há décadas, é Abraham Weintraub, Ministro da Educação, que não tem doutorado ou conhecimento do campo educacional e não conhece a língua portuguesa e também a Ministra Damares Alves, Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos que dizia ser advogada e mestre em educação, especializada em direito de família. Quando instada a dizer em qual universidade ela se formou, então, afirmou que: “Diferentemente do mestre secular, que precisa ir a uma universidade para fazer mestrado, nas igrejas cristãs é chamado mestre todo aquele que é dedicado ao ensino bíblico”.
O Ministro da Saúde, ao menos, tem formação em Medicina e experiência como Secretário de Saúde do Município de Campo Grande, MS. Luiz Henrique Mandetta tem orientado a sociedade seguindo diretrizes da Organização Mundial da Saúde com ênfase na necessidade de recolhimento em suas casas.
É preciso reconhecer que a formação técnica do referido Ministério tem sido importante para o Brasil no combate ao coronavírus. Paradoxalmente, em pronunciamento público, o Presidente da República contrariou as orientações da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde, tendo afirmado que as pessoas deveriam voltar para as suas atividades regulares.
Clovis Arns da Cunha, Presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, em resposta ao pronunciamento de Bolsonaro, reforçou a necessidade negada pelo Presidente de que as pessoas “fiquem em casa”. De forma precisa, vale recuperar o que disse o especialista em infectologia: “Quando a COVID-19 chega à fase de franca disseminação comunitária, a maior restrição social, com fechamento do comércio e da indústria não essencial, além de não permitir aglomerações humanas, se impõe. Por isso, ela está sendo tomada em países europeus desenvolvidos e nos Estados Unidos da América. Médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas e todos os demais profissionais de saúde estão trabalhando arduamente nos hospitais e unidades de saúde em todo o país. A epidemia é dinâmica, assim como devem ser as medidas para minimizar sua disseminação. `Ficar em casa` é a resposta mais adequada para a maioria das cidades brasileiras neste momento, principalmente as mais populosas”.
Além do Ministério da Saúde e do Presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, o Vice-Presidente da República Hamilton Mourão afirmou que “A posição do nosso governo, por enquanto, é uma só. A posição do governo é o isolamento e o distanciamento social”. Os editoriais dos principais jornais do país foram duros e contundentes sobre a irresponsabilidade do Presidente da República. Fica evidente que Jair Messias Bolsonaro não tem qualquer credibilidade, nem junto aos técnicos da saúde ou mesmo junto ao Vice-Presidente da República que representa os Militares no governo.
Portanto, fique em casa e ignore a posição de políticos demagogos e de empresários desesperados que não seguem o que orienta a Organização Mundial da Saúde. Opte sempre e em todos os casos pela formação técnica e aprenda a ignorar o proselitismo da política. Em casos de saúde, considere a posição de um médico, de uma sociedade médica e de uma organização internacional ligada a este campo. Fazendo um apelo teológico, pediria: Pai, perdoe Bolsonaro, ele não sabe o que faz. Ignore o Presidente da República!
Samuel Mendonça é Filósofo e Professor
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