Quanto mais mulheres na política, menor é a mortalidade infantil
O aumento da representatividade da mulher na política brasileira reflete em uma menor taxa de mortalidade em menores de 5 anos e este impacto positivo também é observado quando as mulheres representam ao menos 20% dos eleitos às assembleias legislativas estaduais e à câmara federal. Os dados são de um estudo publicado em 7 de julho na revista científica “Health Affairs” por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade dos Andes, em Bogotá e do Banco de Desenvolvimento Interamericano, em Washington. O estudo foi financiado pelo Projeto de Pesquisa Saúde Urbana na América Latina (SALURBAL).
Os autores chamam a atenção para o registro no país, nas duas últimas décadas, de uma grande queda na mortalidade infantil, segundo eles, motivada principalmente por investimentos substanciais em programas sociais e de atenção primária à saúde e da evidência de que as políticas femininas geralmente são mais propensas do que as masculinas a apoiar esses programas, o objetivo do trabalho foi avaliar a relação entre representatividade das mulheres na política e tomada de decisões para a redução de mortalidade infantil e em que medida os investimentos em programas sociais estão inseridos neste contexto.
Para analisar associações do empoderamento político das mulheres e da mortalidade infantil, os autores reuniram um banco de dados longitudinais de registros de nascidos vivos entre 2000 e 2015. De um total de 5.565 foram selecionados 3.167 municípios. O critério de inclusão foi ter um sistema de registro com menos de 10% de dados faltantes (as falhas nos registros de atestados de óbitos se mostraram mais frequentes nos anos iniciais do período analisado).
Independe do espectro político
A partir da metodologia adotada, foi possível analisar variáveis separadamente, o que incluiu inferir a partir do partido de cada prefeita e deputada. A constatação foi que o efeito é independente da representante eleita ser de um partido de esquerda, centro ou direita. “Evidenciamos que a representatividade das mulheres na política, independente do espectro de ideologia política, reflete em maior implementação de políticas públicas sociais e de medidas que favorecem a saúde pública”, destaca a pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (NEPA) da Unicamp, professora Ana Clara Duran, uma das autoras do estudo.
De acordo com Ana Clara, as taxas de mortalidade infantil em crianças menores de 5 anos foi mantida mesmo após ajustes para a cobertura do Bolsa Família e da Estratégia de Saúde da Família, dois programas que, comprovadamente, se mostraram responsáveis por quedas na mortalidade infantil no Brasil. “Com isso, concluímos que embora o aumento da cobertura desses programas tenha sido importante para a queda da mortalidade infantil no Brasil, nós podemos afirmar também que a presença de mulheres no poder executivo local e legislativo, também impactou no resultado”.
A pesquisadora vislumbra que o resultado do trabalho possa contribuir com a diminuição da resistência das mulheres em se candidatarem e pode influenciar a decisão dos eleitores nas próximas eleições, mostrando que as mulheres não são apenas capazes, mas também mais sensibilizadas para melhorar a saúde da população. “Acreditamos também que este estudo possa ajudar a sociedade civil a cobrar que os partidos respeitem as cotas de candidaturas femininas nas próximas eleições e invistam em suas campanhas na mesma proporção que investem em seus candidatos do sexo masculino”, deseja Ana Clara Duran.
A autora conclui que, neste momento de crise sanitária devido a pandemia da Covid-19, o fortalecimento de candidaturas femininas poderá representar um impacto real no fortalecimento, formulação e implementação de políticas públicas sociais e de saúde, essenciais para que os agravos econômicos e de saúde não afetem ainda mais a população brasileira.
Originalmente publicado no portal da Unicamp:
https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2020/07/09/quanto-mais-mulheres-na-politica-menor-e-mortalidade-infantil