Sobre o lado bom da roda de samba
O multiartista Edu de Maria, fundador do Núcleo Cultural Cupinzeiro, estreia a peça Uji – O Bom da Roda nesta sexta-feira (21/9), às 20h, no Centro Cultural Casarão. A entrada é franca.
Quando aberta, a roda de samba faz jogo com os sentimentos. Ao mesmo tempo em que une na mesma partitura de integração pessoas de diversas histórias, tem a capacidade de emocionar, arrancar suspiros de galanteio e até encomendar a memória de alguém que já se foi. Aliás, a pluralidade encontrada nas vivências em rodas de samba é que dá o tom ao espetáculo Uji – O Bom da Roda, assinado pelo multiartista Edu de Maria, fundador do Núcleo Cultural Cupinzeiro. A montagem estreia nesta sexta-feira (21/9), às 20h, no Centro Cultural Casarão. A entrada é franca.
Contemplado pelo Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (FICC), na categoria Produção e Circulação de Espetáculo Inédito, o espetáculo traz à cena, em companhia de Edu de Maria, os músicos Anabela Leandro, Roberto Amaral e Xeina Barros, sob a direção de Ana Cristina Colla, atriz-pesquisadora do Lume Teatro. Além do Casarão, a montagem passará por outros dois espaços culturais da cidade: Projeto Gente Nova (PROGEN), em outubro, e Sala dos Toninhos (Estação Cultura), em novembro.
Sobre o nome do solo, um mistério paira sobre a expressão o bom da roda. “O nome foi proposto para deixar essa ambiguidade: é alguém ou o que é? Para mim, dentro do processo de construção do espetáculo, o bom da roda é um campo afetivo que a roda produz dentro da minha experiência e da pesquisa com relação ao samba. É a vivência que a roda propicia às pessoas e que eu tento trazer para dentro do espetáculo”, conta Edu de Maria. Da mesma forma, a expressão “uji”, que vem do Budismo Soto Zen, coloca nova interrogação no semblante do espectador. “Exemplifica a unificação entre a existência e o tempo. Uji é puro fluxo, presença em um tempo que não decorre. A roda é uji”.
O espetáculo nasce a partir de duas notas: as próprias memórias afetivas de Edu e as suas pesquisas sobre o universo do samba (mestrado e doutorado), que são alinhavadas às vivências nas rodas, aos bate-papos com sambistas e à experiência do intérprete como cantor, compositor e músico. “É a minha relação com o samba. Não tenho uma pretensão de trazer uma linearidade histórica ou ser didático. Isso eu acabo fazendo com o meu trabalho acadêmico. O espetáculo vem justamente ao encontro desse meu desejo de sair do campo didático e sociológico. É uma criação livre a partir de todas as experiências e dessa minha relação com o samba. É uma relação de existência, de potência de vida”, destaca Edu.
Para apresentar à plateia os três personagens que encantam a trama: o trabalhador urbano Cícero, uma sambadeira e um sambador, Edu de Maria convida à roda de samba a técnica da mímesis corpórea, linha de estudo desenvolvida pelo Lume Teatro (Campinas/SP), que se estrutura na observação, na codificação e na memorização de ações físicas e vocais de pessoas reais encontradas no cotidiano. Para o trabalho, além da diretora do espetáculo, Edu de Maria contou com a orientação de Renato Ferracini, também ator-pesquisador do núcleo teatral campineiro. “A partir dos encontros que tive com cada uma dessas pessoas, busquei trazê-las para o meu corpo e minha voz. O Cícero, mesmo, foi uma criação a partir de uma vivência minha com um trabalhador que estava lavando uma dessas caçambas de lixo orgânico”.
A história
A história não é linear. O ponto de partida do espetáculo está relacionado à chegada de Cícero, um jovem trabalhador urbano e com antepassado marcado pelos batuques, no pedaço. “Aos poucos, ele vai se deparando com memórias e vai apresentando-as ao público. A partir dessas lembranças, surgem outros personagens, como a sambadeira, que representa as várias sambadeiras que me encontrei no Recôncavo Baiano, e um sambador, que para ele é um avô, mas que se configura nos velhos mestres, que tocam, compõem e cantam nas rodas. Essas três figuras são as responsáveis por costurar a trajetória do espetáculo”. Contudo, a fim de trazer novo toque de mistério à trama, o próprio intérprete desfila sobre os olhos da plateia memórias afetivas de uma infância musical.
O Artista
Fundador do Núcleo Cultural Cupinzeiro, o multiartista Edu de Maria tem graduação em música popular, mestrado em educação e doutorado em artes pela Unicamp. De 15 anos para cá, tem atuado de forma bem-sucedida como compositor (sambas e trilhas), violonista, intérprete e arranjador, participando de temporadas em várias partes do Brasil, além de EUA, Portugal, França, Argentina e Uruguai. A partir dessas habilidades, assinou a gravação dos discos Núcleo Cupinzeiro (2008), Histórias do Samba Paulista (2009), Cidade das Noites e Pé de Vento (2011), bem como dos DVDs Experiência Cultural na Roda (2011) e Marejante (2016). O engajamento na pesquisa do samba rendeu-lhe diversos prêmios, entre os quais Prêmio Estímulo de Música (2007), Prêmio de Intercâmbio e Difusão Cultural do Ministério da Cultura (2007), Medalha Carlos Gomes, ProAC (2009) e PROEXT Cultura (2010).
Serviço
Sexta-feira (21/9), às 20h
Centro Cultural Casarão (Rua Maria Ribeiro Sampaio Reginato, s/n, Terras do Barão, Barão Geraldo, em Campinas/SP)
Quanto: Entrada franca
Classificação etária: 10 anos
Duração: 70 minutos