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Cultura

Uma comédia para refletir um drama

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Damião e Cia. de Teatro traz à cena Burundanga, espetáculo inédito realizado pelo SESI-SP, assinado por Fernando Neves, com assistência de direção de Kátia Daher. A montagem, em cartaz de sexta (21/9) a domingo (23/9) no Teatro do SESI de Campinas, propõe uma abordagem cômica que leva o espectador à reflexão sobre a corrupção na sociedade.

Em verbete de dicionário, “burundanga” tem sentido restrito: palavreado confuso e trapalhada. Contudo, quando toma a cena teatral, a palavra se veste de sinônimos que extrapolam a confusão para tomar novos rumos, entre os quais o da crítica social, da reflexão sobre a corrupção e do escárnio bem-humorado de mediocridades e hipocrisias. Aliás, está justamente nesta ponte o tom do espetáculo Burundanga: A Revolução do Baixo Ventre, do dramaturgo Luís Alberto de Abreu, encenado pela premiada Damião e Cia. de Teatro (Campinas/SP). A comédia estará em cartaz sexta (21/9) e sábado (22/9), às 20h, e domingo (23/9), às 19h, no Teatro do SESI de Campinas. A entrada é franca (os ingressos podem ser reservados pelo sistema Meu SESI, no www.sesisp.org.br/meu-sesi).

Contemplada pelo edital Viagem Teatral – Montagens Cênicas Inéditas, a montagem passará pelas unidades da instituição em seis cidades: São José dos Campos, Piracicaba, Itapetininga, Campinas, São Bernardo do Campo e Sorocaba. Além da trupe e do dramaturgo, reconhecido nacionalmente pela pesquisa sobre a comédia popular e por assinar o texto da bem-sucedida minissérie Hoje é Dia de Maria (Rede Globo), a produção reúne outros nomes de referência nas artes cênicas do país, como o diretor Fernando Neves, fundador da companhia Os Fofos Encenam, especialista na linguagem do circo-teatro e herdeiro dos artistas do Circo-Teatro Pavilhão Arethuzza.

Ao mesmo tempo em que reflete a identidade cômica da trupe, a montagem é um convite ao desafio, como descreve a atriz Fernanda Jannuzzelli. “A trupe namorava esse texto já há algum tempo. Por conta do momento atual em que o Brasil está vivendo, resolvemos antecipar a produção, já que se trata de um texto superatual. Além disso, ele se encaixa justamente ao nosso trabalho, que tem a ver com a pesquisa de linguagens cômicas. Nessa produção, apostamos na estética do circo-teatro e no desafio de ser construída no palco italiano. Até então, todos os nossos espetáculos, entre os quais As Presepadas de Damião, foram feitos na rua”.

Em Burundanga, a plateia acompanha os passos de dois trambiqueiros recém-chegados a uma cidadezinha localizada nos confins do Brasil. Quando a dupla João Teitê e Matias Cão começa a passar por dissabores, entre os quais a fome e a miséria, toma uma iniciativa inusitada: vestir-se de militar para inventar que o país foi tomado por um golpe. A partir desse estopim cômico, “os moradores creem que uma revolução está em curso, motivo suficiente para acirrar as discussões e aflorar os ânimos. O mal-entendido traz à tona interesses ocultos, paixões arrebatadoras e alianças improváveis, ocasionando uma confusa e divertida revolução”, destaca Jannuzzelli.

Apesar de escrita em 1994, Burundanga propõe ao espectador um exercício: refletir o momento atual vivido pelo País. “A peça trata de uma sociedade em que alguns tentam dar o golpe nos outros e, ao final, todo mundo sai de mãos vazias. Parece até algo premonitório, não é? O texto continua muito atual, pois as situações, as insinuações e a corrupção no País não mudam. Os personagens de Burundanga têm fome, cada qual com um interesse próprio. Não há um pensamento ético sobre as questões, não existe uma noção de civilidade e de cidadania. Por exemplo, tem uma fala do coronel que ilustra bem isso. Ele diz: ‘Primeiro, a gente tira a prefeita e, depois, pegamos tudo’. Um quer passar por cima do outro”, comenta Fernando Neves.

O encantamento do texto de Abreu, de acordo com o diretor, está justamente em indicar as mazelas da sociedade sem se render ao tom panfletário e partidário. “É arte, é teatro, não é palanque. Sendo assim, a fala do Abreu passa a ter um peso, uma grande importância. O interessante é que ele pega o cômico de todo esse drama que a gente vive para propor uma reflexão a partir de uma linguagem muito preciosa e de um tom metafórico. Burundanga é um convite ao simbolismo. Isso está faltando na sociedade atual. As coisas estão tão pragmáticas e concretas que o abstrato parece ter ido para a lua. As pessoas não conseguem ultrapassar o limite do palpável. Ninguém mais entende a metáfora”.

O circo-teatro

Na montagem, a trupe revisita a estética do circo-teatro por meio da releitura que o diretor Fernando Neves construiu ao longo de anos, o que lhe proporciona uma assinatura única, baseada na tradição herdada de sua família circense. Em destaque, a trilha é executada ao vivo pelo pianista Lucas Uriarte, com a participação do ator Rodrigo Nasser na rabeca. “No circo-teatro, a música está sempre presente. Não como um simples adorno ou acompanhamento, mas como um elemento ligado à representação, explicitando o enredo da peça e atuando como parte importante da criação da teatralidade”, conta Jannuzzelli.

A trupe

Inspirada na teatralidade cômica do ator, a Damião e Cia. de Teatro nasceu em 2012, em Barão Geraldo, distrito de Campinas. A partir do olhar apurado de atores egressos do curso de Artes Cênicas da Unicamp, o grupo passou a investigar as manifestações populares do Brasil. Em 2012, após íntima aproximação do Cavalo-Marinho e da Folia de Reis, a trupe estreou o espetáculo As presepadas de Damião: de como fez fortuna, venceu o Diabo e enganou a Morte com as Graças de Jesus Cristo.

Ao longo de cinco anos em cartaz, o espetáculo arrebatou prêmios em diversos festivais pelo Brasil, entre os quais Festival Nacional de Teatro de Limeira, Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau e Encontro Nacional de Cultura de Taubaté. Em 2013, com Estrela da Madrugada: a história de um palhaço apaixonado, o grupo se enveredou pelo universo das pantomimas clássicas e da essência do circo-teatro brasileiro. Atualmente, retoma o estudo da teatralidade circense com a montagem Burundanga: A Revolução do Baixo Ventre

Viagem Teatral do SESI-SP

A área de artes cênicas do SESI-SP apresenta um vasto escopo de produções de múltiplas experiências estéticas e amplo repertório temático. Sua missão é fomentar a diversidade cultural, democratizar o acesso à arte e à informação, formar plateias e estabelecer o diálogo contínuo e permanente entre obra e público, comunidade e sociedade.

O projeto Viagem Teatral – Montagens Cênicas Inéditas visa reforçar a produção artística regional, incentivando e difundindo aspectos, características e a identidade da cultura local. A proposta é fomentar a produção cênica contemporânea do interior, litoral e da grande São Paulo, proporcionando variadas experiências estéticas para o fomento da diversidade cultural e o estímulo à formação de novas plateias.

“É um processo muito bonito. Recebemos apenas a ideia do espetáculo, uma pequena concepção em papel, e a trabalhamos até transformá-la em realidade concreta para o público. Essa é uma das frentes de atuação do SESI-SP, a de difusão cultural, proposta que se torna ainda mais rica no momento em que fomentamos a produção teatral do interior, que muitas vezes não tem tanto espaço para ser contemplada em editais nacionais”, declara Anna Polistchuk, analista de atividades culturais do SESI-SP.

Ficha Técnica

Dramaturgia: Luís Alberto de Abreu | Direção: Fernando Neves | Assistente de direção: Kátia Daher | Elenco: Aline Olmos, Bruna Recchia, Fernanda Jannuzzelli, Lara Prado, Lucas Marcondes, Rafael D’Alessandro e Rodrigo Nasser | Música: Lucas Uriarte | Cenário: Márcio Medina | Cenotécnica e adereços: Zé Valdir | Iluminação: Domingos Quintiliano | Figurino: Carol Brada e Leopoldo Pacheco | Produção executiva: Cassiane Tomilhero, Cristiane Taguchi e Juliana Saravali | Assessoria de imprensa: Tiago Gonçalves | Idealização: Damião Cia. de Teatro | Equipe técnica de Arte Cênicas SESI-SP: Miriam Rinaldi, Anna Helena Polistchuk, Daniele Carolina L. Uchikawa e Flavio Bassetti | Equipe técnica SESI São José dos Campos: Roberval Rodolfo de Oliveira, Fernando Luís de Andrade, Jean Fabio Valerio de Souza e Juliana Gurgel de Almeida Santos | Equipe técnica SESI Piracicaba: Fatima Cristina Monis, Attilio Severino de Andrade e Giselly Pereira da Silva | Equipe técnica SESI Itapetininga: Milton Cardoso, Carlos Eduardo de Andrade e Danilo Monari Baptista dos Santos | Equipe técnica SESI Campinas Amoreiras: Maria Inês de Rezende Vianna, Christian Henrique Rodrigues de Melo e Ezequiel Teixeira | Equipe técnica SESI São Bernardo do Campo: Priscila Borges, Silnei Pereira, Igor Ferreira e Alessandra Rossi | Equipe técnica SESI Sorocaba: Júnior Mosko, Claudinei de Jesus Rosa e Maria Elídia Athayde Amorim | Realização: SESI-SP

SERVIÇO

O quê: Burundanga – A Revolução do Baixo Ventre, da Damião e Cia. de Teatro

Quando: Sexta (21/9) e sábado (22/9), às 20h, e domingo (23/9), às 19h

Onde: Teatro do SESI de Campinas (Av. das Amoreiras, 450, Pq. Itália, em Campinas/SP)
Quanto: Entrada franca (os ingressos podem ser reservados pelo sistema Meu SESI, no www.sesisp.org.br/meu-sesi)
Informações: (19) 3772-4100 e damiaoeciadeteatro.com.br

Duração: 90 minutos

Classificação indicativa: 12 anos

Modalidade: Adulto

Gênero: Comédia

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