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‘Boi Falô’ é tradição da Sexta-feira Santa em Barão Geraldo

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Cerca de 2,5 mil pessoas participaram da Festa do Boi Falô, considerada a maior celebração popular religiosa da Sexta-feira Santa, no Distrito de Barão Geraldo, mantendo uma tradição de dezoito anos. O evento foi aberto oficialmente às 9 horas com a fanfarra da Escola Estadual Barão Geraldo Rezende e seguiu com várias atrações musicais, entre elas a apresentação da Orquestra Cabocla de Campinas.

Ao meio dia, o cônego José Luiz Araújo, pároco da igreja Santa Isabel, matriz de Barão Geraldo, abençoo a tradicional macarronada com anchovas que depois foi distribuída à população. No momento da benção, o padre lembrou a importância da Festa do Boi Falô como instrumento de reflexão sobre a morte de Cristo. “Mesmo sendo uma lenda, a história do Boi Falô remete a tradição cultural, para um significado religioso que precisa ser guardado: o sacrifício de Jesus Cristo”, disse.

Para a tradicional macarronada, neste ano, os organizadores prepararam uma tonelada de macarrão e para o molho usaram 150 quilos de tomates, 30 quilos de cebolas, 5 de alho, 20 de anchovas e 50 litros de óleo.

Virgínio Barbutti foi o responsável pela cozinha e preparou a massa com a ajuda de 11 colaboradores. Ele repete a mesma rotina toda Sexta-feira Santa há onze anos, desde que assumiu o lugar do pai, José Geraldo, um dos idealizadores da festa, que faleceu depois da sétima edição do evento. Para Virgínio, trabalhar como voluntário da festa tem um sentido afetivo e cultural. “Quando meu pai e outras pessoas começaram essa tradição, eles queriam que a cultura do distrito fosse mantida viva na história. Participar disso faz parte também da vida da minha família”, concluiu emocionado.

O secretário municipal de Cultura, Ney Carrasco, prestigiou o evento acompanhado do diretor da Pasta, Gabriel Rapassi, e do subprefeito de Barão Geraldo, Vadir Terrazan. Para Ney Carrasco, a grande participação popular no evento é uma demonstração de que as manifestações religiosas em nosso País são motivo de alegria. “A festa do Boi Falô é uma prova de que a religiosidade brasileira é sociologicamente festiva, motivo de alegria e não de tristeza”. Ainda segundo Ney Carrasco, “a Secretaria de Cultura de Campinas tem todo interesse de incentivar as tradições culturais por meio das manifestações populares”.

Além das atrações musicais e da tradicional macarronada, quem participou da 18º edição da festa do Boi Falô ganhou camisetas com estampas que traduzem a história da lenda, contada desde o ano de 1888.

A lenda

A história do Boi Falô surgiu em 1888 na Fazenda Santa Genebra de propriedade do Barão Geraldo de Rezende. Conta a lenda que um dos escravos que trabalhava nas plantações de cana-de-açúcar e café foi obrigado pelo capataz a ir ao pasto e atrelar um boi para arar a terra na Sexta-feira Santa.

O escravo, chamado Toninho, um rapaz franzino e muito obediente, foi então colocar a canga no animal, que estava deitado sob uma frondosa árvore. Porém, por mais que o escravo insistisse o boi não saia do lugar. Foi aí que o animal olhou para o escravo, deu um mugido alto e disse: hoje é dia santo, é dia do Senhor, não é dia de trabalho.

O escravo saiu correndo para sede da fazenda, gritando: o boi falô, o boi falô! Segundo a lenda, o capataz ainda teria tentado castigar o Toninho pela insubordinação, mas ele correu para a Casa Grande à procura do barão Rezende que, ao ouvir seu relato teria lhe dado razão e ordenado que ninguém trabalhasse naquele dia.

O escravo passou a trabalhar dentro da casa, onde ficou até sua morte. E em consideração aos seus bons serviços, acabou sendo enterrado junto ao túmulo do barão, no cemitério da Saudade, em Campinas.

A lenda faz parte do folclore do Distrito de Barão Geraldo. O túmulo do escravo Toninho é um dos mais visitados no Dia de Finados, principalmente por aquelas pessoas que querem alcançar uma graça.

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